Da “moderação” à “suruba”: esse foi o caminho que um prato do cardápio do Bar Quermesse, em Curitiba (PR), precisou percorrer para ser notado pelos clientes. A porção consiste em um combinado dos petiscos mais pedidos do estabelecimento. O dono do local, José Araújo Netto, 40 anos, conta que acreditava no potencial da iguaria, mesmo quando ela não chamava tanto a atenção dos clientes. Segundo ele, a simples mudança de nome para “Suruba Discreto” elevou as vendas em 800%, passando de cerca de 30 unidades comercializadas por mês para uma média de 250.
A porção foi lançada em janeiro de 2022 como uma grande aposta da casa, mas não emplacou: diante de tantas opções do cardápio, os clientes passavam batido pelo nome “Moderação”. “Era uma porção ‘coletiva’ de cinco outras porções que tínhamos no bar, quase como um menu degustação de petiscos do bar”, explica o empreendedor.
De acordo com Araújo Netto, o prato foi pensado para o perfil de consumo do local, que costuma receber grupos. No entanto, ficou encalhado. “Não vendia de jeito nenhum, mas tinha motivo para isso, era a cara do bar.”
O Quermesse foi inaugurado em março de 2009 com a ideia de ser um bar descontraído na capital paranaense. Foi o primeiro projeto do empreendedor na área gastronômica. De lá para cá, ele abriu mais alguns negócios, como a rede de franquias Porks, o bar do Açougueiro (especializado em churrasco) e o Fish*Me, de frutos do mar.
Ele conta que já tinha feito uma mudança de nome no cardápio da Porks há alguns anos, com bom resultado. Por lá, gyoza virou “pastelzinho japonês”. “A rede está em 50 cidades, e há lugares que não têm cultura de comer comida japonesa. Ao mudar o nome, ele passou a ser um dos mais vendidos.” Ele rememorou isso enquanto pensava em alternativas para salvar sua “porção degustação”.
“Suruba” foi inspirada em outro restaurante
Mas de onde veio a ideia da suruba? Em uma viagem ao interior de Minas Gerais, Araújo Netto conheceu um botequim que servia um mexido com o nome “Suruba Discreta”. De acordo com ele, o prato também era uma mistura de vários itens, o que ele lia como uma “confusão”, que é uma das definições para o termo suruba em dicionários da língua portuguesa.
O preço da ‘suruba’
Apesar do crescimento considerável da venda do item, o ‘Suruba Discreto’, que custa R$ 79, não representou um aumento de faturamento no bar como um todo – o Quermesse tem uma receita média anual de R$ 6 milhões. Atualmente, a casa trabalha com mais de 50 opções de petisco. A porção não é o carro-chefe, é um resumo dos mais vendidos.
A estratégia de batizar um prato aparentemente comum com um nome inusitado também foi adotada por outro empreendedor conterrâneo de Araújo Netto. Beto Madalosso, dono de casas como Carlo Ristorante, Madá Pizza & Vinho e Sambiquira fez uma pizza enrolada na pandemia como uma tentativa de gerar faturamento em meio às restrições de funcionamento. A aparência peculiar do item o inspirou a chamá-lo de “trolha”.
“É um projeto de comunicação, tanto quanto de alimentação. Esse produto existe até na Itália, mas não carrega a brincadeira do nome. As frases de divulgação, a marca, a linguagem que usamos, a ironia, tudo isso faz com que tenha a força. Se tivesse outro nome, não teria tanto apelo”, disse Madalosso a PEGN.
A Trolha ganhou vida própria e até uma loja com o mesmo nome, que foi inaugurada em abril deste ano e vendeu R$ 90 mil logo no primeiro mês. Depois, a média passou a ser de um faturamento de R$ 75 mil mensais, com uma participação relevante do delivery.
Adjetivos podem aumentar vendas
De acordo com Simone Galante, CEO da consultoria especializada em food service Galunion, o nome dos produtos reflete a expectativa do consumidor em relação aos pratos, e a adoção de adjetivos que ajudem a valorizar o item no cardápio pode ajudar a aumentar as vendas.
Sobre o caso do “Suruba Discreto”, ela acredita que itens que ajudam os clientes a terem histórias para contar e induzem a uma divulgação boca a boca podem ser uma boa estratégia.
“Precisa existir um pensamento sobre qual adjetivo ou substantivo posso usar para reforçar meu cardápio de maneira positiva. ‘Moderação’ talvez indique um tipo de ação que não tem a ver com impulso de compra. Quando eu troco por um nome que instiga o público, isso pode refletir no aumento de vendas.”
Fonte: https://fanoticias.com.br/