InícioSAÚDEEstudos mostram perda de peso sustentada em pacientes que usaram semaglutida

Estudos mostram perda de peso sustentada em pacientes que usaram semaglutida

Estudos de longo prazo apresentados durante congresso europeu sobre obesidade demonstram que, em comparação ao placebo, 52% dos pacientes que usaram medicamento para emagrecer reduziram índice de massa corporal em dois anos

 

Pouco mais da metade dos pacientes com sobrepeso e obesidade, mas sem diabetes, reduziu ao menos uma categoria no índice de massa corporal (IMC) dois anos após o início do tratamento com semaglutida, substância ativa de medicamentos como ozempic e wegovy. Em quatro anos, a média da perda de peso corporal foi de 10,2%, com redução de 7,7cm de cintura, comparado ao grupo placebo (1,5% e 1,3cm, respectivamente). Dois estudos apresentados no Congresso Europeu de Obesidade, em Veneza, na Itália, também mostram um risco 20% de morte por doenças cardiovasculares e eventos como infarto e acidente vascular cerebral em 36 meses.

Os estudos acompanharam 17 mil adultos com sobrepeso (IMC 25 a 29,9kg/m²) por quatro anos, com medições periódicas da perda de peso, além de avaliação da saúde cardiovascular. Todas essas pessoas já haviam sofrido um episódio de infarto, derrame e/ou tinham doença arterial periférica. Os participantes foram divididos aleatoriamente em grupo de tratamento e placebo, para comparação.

Em 104 semanas, 52% pacientes do primeiro grupo fizeram a transição para uma categoria de IMC mais baixa. Entre os do placebo, o percentual foi 16%. A proporção de participantes com obesidade, por exemplo, caiu de 71% para 43% entre os usuários da semaglutida e de 72% para 68% entre as pessoas que não receberam a intervenção medicamentosa. O peso saudável foi atingido por 12% dos adultos tratados, comparado a 1,2% no controle.

Segundo os pesquisadores, a perda de peso foi alcançada por homens e mulheres de todas as etnias, idades e tamanhos corporais estudados. A taxa de efeitos colaterais foi considerada baixa, e os mais comuns eram eventos gastrointestinais.

Hormônio

A endocrinologista Alessandra Rascovski, de São Paulo, explica que, originalmente, as “canetas emagrecedoras” foram desenvolvidas para combater diabetes e passaram a ser usadas off label (indicação diferente daquela da bula) para obesidade, sem mostrar prejuízos à saúde. Hoje, já existem medicamentos do tipo específicos para a condição, inclusive aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Em geral, as canetas agem simulando a ação do GLP-1, hormônio produzido no intestino que regula a glicemia, diminui a fome e aumenta a saciedade”, explica a especialista.

“Nossa análise de longo prazo da semaglutida estabelece que a perda de peso clinicamente relevante pode ser sustentada por até quatro anos em uma população geográfica e etnicamente diversificada”, afirma Donna Ryan, do Centro de Estudo Biomédico de Pennington, nos Estados Unidos, e autora de um dos artigos. “Esse grau de perda de peso numa população tão grande e diversificada sugere que é possível impactar a carga de saúde pública de múltiplas doenças relacionadas à obesidade, incluindo vários tipos de câncer, osteoartrite, ansiedade e depressão.”

Os estudos apresentados no congresso médico mostram que, independentemente da quantidade de peso perdida, houve benefícios cardiovasculares, indicando que mesmo um emagrecimento não tão drástico pode ajudar a proteger o coração do excesso de gordura corporal.

Cardiovascular

Um estudo preliminar divulgado, também durante o congresso europeu, no ano passado, mostrou que adultos com sobrepeso ou obesidade, mas sem diabetes, que tomaram semaglutida por mais de três anos tiveram um risco 20% menor de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou morte devido a doenças cardiovasculares. Em média, essas pessoas perderam 9,4% de peso corporal.

Os pesquisadores investigaram marcadores de obesidade que incluem a composição corporal e a distribuição de gordura (circunferência da cintura e relação circunferência da cintura com altura, além da medição do IMC. Assim, constataram que a semaglutida tem um efeito na gordura abdominal central, conhecidamente um fator de risco cardiovascular.

“Essas descobertas têm implicações clínicas importantes”, comentou, em nota, John Deanfield, pesquisador da Universidade College London e autor principal de um dos artigos.

O médico destaca que, como o efeito cardiovascular do tratamento foi independente da quantidade de peso perdido, é possível que a droga tenha outras ações redutoras de eventos como infarto e AVC. “Esses mecanismos alternativos podem incluir impactos positivos no açúcar no sangue, na pressão arterial ou na inflamação, bem como efeitos diretos no músculo cardíaco e nos vasos sanguíneos, ou uma combinação de um ou mais desses.”

A médica endocrinologista Deborah Beranger, pós-graduada em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, observa que a redução de eventos cardiovasculares é importante porque a semaglutida é o primeiro medicamento aprovado em bula para obesidade que também demonstrou efeitos benéficos para o coração. “Reduzir a obesidade no mundo deve ser uma prioridade de saúde pública, bem como proteger a saúde cardiovascular e metabólica desses pacientes. Até então, não existe nenhuma medicação aprovada em bula para isso”, diz.

Entusiamo

“Os resultados são entusiasmantes, pois a prevenção de ataques cardíacos e AVC com um medicamento que também reduz o peso é muito importante para muitos pacientes, especialmente se os dados também mostrarem, como suspeito que irão, uma melhoria significativa na qualidade de vida dos pacientes devido à perda de peso associada. São necessários mais detalhes sobre os ensaios para lhes dar a devida consideração, mas é um bom resultado para os pacientes, especialmente porque cada vez mais vivem com obesidade e doenças cardiovasculares.”

Naveed Sattar, Professor de Medicina Metabólica da Universidade de Glasgow, na Escócia

Para saber mais

A semaglutida — substância de medicamentos como ozempic e wagovy — também mostrou, em um estudo, potencial para reduzir o uso de diuréticos em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEp). A conclusão é de três estudos apresentados ontem no congresso científico da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Lisboa, Portugal.

A ICFEp é uma condição na qual o coração bombeia normalmente, mas a rigidez do músculo é excessiva, tornando o órgão incapaz de suportar a necessidade de sangue rico em oxigênio. A doença está cada vez mais comum à medida que a população envelhece e os níveis de obesidade e de estilo de vida sedentário aumentam. Os sintomas incluem falta de ar — muitas vezes com esforço —, fadiga e tornozelos inchados.

Desempenho

Os três estudos avaliaram o tratamento com semaglutida uma vez por semana em comparação ao grupo placebo em pacientes com ICFEp relacionada à obesidade, com e sem diabetes, respectivamente. Todos mostraram uma melhora significativa dos pacientes que usaram o medicamento na perda de peso, no desempenho em caminhada de seis minutos, nas limitações físicas e nos sintomas de insuficiência cardíaca.

Em 52 semanas, a necessidade de usar diurético foi 17% menor no grupo da semaglutida. “Houve evidência de uma redução significativa na dose média do diurético, parâmetro que indica efeitos modificadores da doença e estão associados a melhores resultados clínicos a longo prazo nessa população de pacientes”, disse, em nota, a autora dos estudos, Kavita Sharma, da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, nos Estados Unidos.

 

 

Fonte: Correio Braziliense

Foto: Divulgação

Artigos Relacionados

LEIA MAIS