Duhigó, da etnia Tukano, e Dhiani Pa´saro, da etnia Wanano, são representados pela Manaus Amazônia Galeria de Arte
Os artistas indígenas amazonenses Duhigó, da etnia Tukano, e Dhiani Pa´saro, da etnia Wanano, compõem a lista do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) – o maior da América Latina -, em uma mostra denominada Histórias Indígenas, que ocupará as galerias do 1º andar e 2º subsolo do local, no período de 20 de outubro de 2023 a 25 de fevereiro de 2024. Em seguida, a mostra viaja para o Kode, em Bergen, na Noruega, e fica em cartaz na instituição de 26 de abril a 25 de agosto de 2024.
A exposição coletiva apresenta, por meio da arte e das culturas visuais, diferentes perspectivas das histórias indígenas da América do Sul, América do Norte, Oceania e Região Nórdica, e tem curadoria de Edson Kayapó, Kássia Borges Karajá e Renata Tupinambá, curadores-adjuntos de arte indígena, MASP, e dos curadores internacionais convidados Abraham Cruzvillegas (Cidade do México); Alexandra Kahsenni:io Nahwegahbow, Jocelyn Piirainen, Michelle LaVallee e Wahsontiio Cross (National Gallery of Canada, Ottawa); Bruce Johnson-McLean (National Gallery of Australia, Camberra); Irene Snarby (Kode /Tromsø, Noruega); Nigel Borell (Auckland, Nova Zelândia) e Sandra Gamarra (Lima, Peru), além da coordenação curatorial de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP.
Indígenas amazonenses em foco
A artista Duhigó, reconhecida nacional e internacionalmente, que já acumula 18 anos de experiência, já está em São Paulo para a abertura da exposição, onde terá destaque com a obra Nepu Arquepu (Rede Macaco, de 2021), que retrata um ritual de nascimento de um bebê do povo Tukano, enfocando o universo feminino do parto e o descanso da mãe na rede macaco, eternizando, assim, uma marca cultural. “Essa exposição é um reconhecimento e valorização dos nossos trabalhos indígenas que antes não eram vistos com admiração e respeito. Estou muito feliz de ver minha obra novamente exposta no MASP, e espero que o pessoal que me conhece vá lá ver e quem não me conhece, me conheça agora, através desse trabalho”, disse Duhigó que também está com exposições simultâneas em São Paulo, na Aura Galeria com “Hori: Wanano e Tukano”, expondo obras suas e de Dhiani Pa’saro.
A artista também expôs neste mês em Londres, na Inglaterra, na mostra coletiva MUAMBA: brazilian traces of movement (MUAMBA: rastros brasileiros de movimento). Na Amazônia, Duhigó apresenta três obras na Bienal das Amazônias, em Belém (PA), e sua primeira individual “Miriã Sutiri – Máscaras de Pássaros”, na Galeira do Largo, em Manaus (AM), promovida pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Amazonas.
Dhiani é outro artista de renome nacional, que retrata em suas telas, principalmente, a cultura primitiva e ancestral da Amazônia na cosmovisão indígena dentro de uma expressão poética original e muito própria de um artista que vê na arte a possibilidade de salvaguardar a memória ancestral de seu povo Wanano. Para a mostra do MASP, o artista estará com a obra Suophoka (Peneiras), em marchetaria, inspirada nas peneiras Wanano. Composta por 20 tipos de madeira a obra apresenta dois tipos de trançados usados nas peneiras Wanano, um chamado “pegada de maçarico” – tipo de pássaro – e outro “casco de besouro”.
Para ele, participar de uma exposição o MASP, que é o mais importante do país e do Hemisfério Sul, simboliza uma abertura de espaço único. “Eu estou muito feliz em participar pela segunda vez de uma seleção de obras do Masp. Estive em 2019 em Histórias da Dança e agora Histórias Indígenas, trazendo meus quadros de marchetaria que apresentam objetos do meu povo Wanano e também dos Tikuna, que é o povo da minha esposa”, explica Dhiani.
Para o diretor da Manaus Amazônia Galeria de Arte, Carlysson Sena, que representa os dois artistas, a exposição é um marco de representação para o Estado do Amazonas. “Ter dois indígenas que atuam há 18 anos no mercado, produzindo constantemente, esse convite do MASP é um reconhecimento da qualidade do nível dos artistas visuais do Amazonas, principalmente os indígenas, que não ocupavam espaços expositivos oficiais. Hoje, eles são reconhecidos no país e, principalmente, no Estado do Amazonas. “.
Mostra coletiva MASP
A exposição está dividida por núcleos, e os artistas amazonenses compõem o núcleo “Tempo não tempo”, ressaltando que, para os povos originários, o mundo é composto da atemporalidade que atravessa toda a criação da humanidade. O núcleo convida o espectador a uma jornada de descobertas de outros olhares culturais sobre a temporalidade, revelando expressões e relações diversas com o espaço, na preservação da existência pautada em ciclos da natureza, que dialogam com o visível e o invisível.
Com curadoria de Edson Kayapó, Kássia Borges Karajá e Renata Tupinambá, curadores-adjuntos de arte indígena, MASP, o núcleo é dividido nas subseções “Mitos e ancestralidade”, “Grafismos”, “Autorrepresentações” e “Vida cotidiana”. “O intuito é refletir sobre as histórias da criação, das mulheres, dos homens, dos velhos, das crianças, das encantarias, dos ritos, da espiritualidade, do cotidiano, da educação e da contemporaneidade do agora, que não abandona as raízes da tradição e é correnteza de passado e presente”, refletem os curadores.
Além de Duhigó e Dhiani, também estarão em exposição trabalhos do povo Baniwa, Feliciano Lana e Joseca Yanomami.
A coletiva compreende oito núcleos: sete dedicados a diferentes regiões do mundo, sendo eles, Relações que nutrem: família, comunidade e terra (Canadá); A construção do “eu” (México); Histórias de pintura no deserto (Austrália); Pachakuti: o mundo de cabeça para baixo (Peru); Rompendo a representação (Maori, Nova Zelândia); Tempo não tempo (Brasil); Várveš: escondidos do dia (Sami, Noruega); e um núcleo temático organizado por todos os curadores da mostra, intitulado Ativismos.
Fonte e Foto: Divulgação