Apresentadora do reality show Vida de merendeira, Úrsula Corona destaca a importância das profissionais que se dedicam ao preparo diário da alimentação nas escolas brasileiras
Reality criado para valorizar os profissionais que preparam a alimentação escolar de mais de 40 milhões de jovens todos os dias, o Vida de merendeira está no ar, desde maio, no Sabor & Arte — canal por assinatura. A atração é fruto de uma parceria entre o Centro de Excelência Contra Fome do WFP (Programa Mundial de Alimentos da ONU), o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC). Em etapas regionais, foram selecionadas 15 merendeiras, oriundas de todos os cantos do país. Além de apresentar o dia a dia, as participantes devem demonstrar talento e criatividade na preparação de deliciosas receitas, com ingredientes típicos dos locais em que vivem. Mais do que sabor, entretanto, a nutrição é o ponto crucial da competição.
Os episódios são costurados por depoimentos de integrantes da comunidade escolar (professores, familiares, gestores e alunos), além de nutricionistas, produtores e fornecedores de alimentação. A proposta do programa é potencializar a discussão sobre a importância da alimentação balanceada nas escolas — concedendo o protagonismo às merendeiras e valorizando o papel dessas profissionais fundamentais na promoção de hábitos saudáveis e adequados para as crianças. A vencedora leva para casa o prêmio de R$ 25 mil e uma viagem internacional.
“O grande valor desse programa de televisão é protagonizar essas mulheres nobres, que abraçaram uma profissão honrada, com a magia que envolve a merenda escolar, mas, principalmente, com a preocupação nutricional desses alimentos. É preocupante pensar que muitas dessas vidas têm somente essa refeição no dia todo. Então, acima da criatividade que elas apresentam em cada receita preparada com tanto carinho, vem a questão nutricional”, afirma a atriz e apresentadora Úrsula Corona, 42 anos, que comanda, pela primeira vez, a atração — que está em sua terceira edição.
Entretenimento com olhar humano
A presença de Úrsula no Vida de merendeira não é por acaso. Por trás da apresentadora, figura marcante na indústria do entretenimento, especialmente pela atuação em novelas, existe o comprometimento com a causa. Ela é a CEO do instituto Fome de Tudo, a única organização nacional com parceria e chancela oficial do WFP e que, junto com o Programa Mundial de Alimentos da ONU no Brasil, desenvolve soluções inovadoras e sustentáveis, com ação principal no Brasil, mas ingressando no continente africano por meio de Moçambique.
A instituição defende que é possível combater a fome com o uso de tecnologia, cadastrando os excedentes dos supermercados e oferecendo os alimentos às entidades cadastradas. Essa logística é feita de forma controlada e rastreada pelo aplicativo, que produz relatórios detalhados de todo processo e com todos os benefícios gerados. Em operação há quatro anos, atendendo uma rede de instituições em todo o Brasil com um sistema maduro, validado e premiado, a iniciativa — que lançou nova tecnologia neste mês — ajuda cerca de 300 mil pessoas, com mais de 9 milhões de refeições até o momento. A tech, própria do FDT, já ganhou diversos reconhecimentos no Brasil e no exterior e se destaca pela maturidade da tecnologia e por contribuir com os dados e a gestão no sistema de produção de alimentos. E estão prontos para escalar em todo o mundo além do território nacional. Inclusive, contribuindo com as metas do Brasil Sem Fome.
Tecnologia contra o desperdício
De acordo com a ONU, o Brasil desperdiça, por ano, cerca de 27 milhões de toneladas de alimentos. Grande parte dessa perda, algo em torno de 80%, acontece no processo de produção, manuseio, transporte e nas centrais de abastecimento. “Existe a indústria da fome. Não é preciso produzir mais alimentos para acabar com a fome no mundo, é preciso acabar com o prejuízo”, argumenta Úrsula.
Juntos, o WFP e o instituto Fome de Tudo lançaram, neste ano, uma campanha para universalizar a alimentação escolar em países da América Latina e Caribe. O programa da ONU atua em mais de 120 países e o objetivo agora é, por meio da parceria com a tecnologia brasileira, incentivar e facilitar a apropriação desses programas sociais pelo governo nacional em regiões mais precárias de 10 países: República Dominicana, Nicarágua, Guatemala, Venezuela, EL Salvador, Cuba, Bolívia, Colômbia, Haiti e Brasil.
Estudos do programa da ONU mostram que, a cada U$ 1 investido em programas de alimentação escolar, haverá um retorno de U$ 9 dólares. Isso porque essa política pública incentiva a produção local, utilizando a agricultura familiar como fornecedora dos insumos para a merenda servida na escola da região. “E é importante destacar que uma criança bem alimentada tem um melhor aprendizado e também usa menos o Sistema Único de Saúde (SUS)”, assinala Úrsula, destacando, ainda, o fato de que 10% do orçamento familiar pode ser amenizado pela garantia das merendas por cada estudante. “A alimentação escolar ataca diretamente um problema estrutural. A criatividade das merendeiras leva ao interesse da criança em comer com os olhos, e tendo essa segurança nutricional fundamental”, acrescenta.
Para a apresentadora e empreendedora social, a fome não é só falta de comida, então vai além da entrega de cestas básicas. “Os programas de alimentação não são mais focados no assistencialismo, mas na educação de um modo geral. Ao longo do reality show, são dadas informações para o público de como as refeições são feitas e, principalmente, valorizando a regionalização, já que estamos falando de um país continental”, explica Úrsula.
Ferramenta de potencialização
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) está presente em todos os municípios brasileiros, atendendo a 150 mil escolas e 40 milhões de alunos, com mais de 50 milhões de refeições todos os dias. “O Brasil é um país com poucas ferramentas de transformação, mas, quando as utiliza, tem esse poder de potencializar o indivíduo. Ser merendeira é uma profissão muito dura, que não exige nem oferece formação. Essas mulheres são pessoas com história de vida quase invisível e o programa traz uma valorização, um empoderamento delas, dessa missão, dessa vocação, e cabe a nós reconhecê-las e exaltá-las”, defende Úrsula.
Conhecida pela atuação em novelas brasileiras como Floribella (2005/2006), na Band, e História de amor (1995), Viver a vida (2009), O astro (2011) e Totalmente demais (2015) no Brasil, além de três produções portuguesas, uma colombiana e duas inglesas no currículo, a atriz de formação carrega como filosofia que “percorrer o mundo real é aprendizagem”. Úrsula destaca que, profissionalmente, ama o trabalho artístico, mas tem algo dentro de si que sente necessidade de um equilíbrio cada vez maior com a dedicação ao terceiro setor. “É a questão da empatia, que virou elogio, mas é um princípio básico de valor. Não dá mais para a gente, dentro de guerras e desastres naturais, não compreender o que pode ser feito hoje por cada um de nós”, conclui.
Fonte: Correio Braziliense
Foto: Divulgação